A busca por pílulas mágicas continua a todo vapor. Desta vez, a escolhida é a carnitina. Um suplemento bem conhecido por atletas e que supostamente aumenta a resistência e a força. Pois a carnitina alcançou um novo patamar ao ser assunto de uma das revistas científicas de maior prestígio do mundo, a "Cell Matabolism". A revista publicou um estudo que sugere que a carnitina poderia aumentar a resistência ao exercício e, assim, a força muscular em idosos.

A perda de tônus muscular é um dos piores problemas que sofremos à medida que envelhecemos. Ela reduz nossa mobilidade, nos tira o equilíbrio e nos faz depender da ajuda alheia. Dessa forma, uma suplemento que ajude a preservar o tônus ao permitir que nos exercitemos por mais tempo e vigor chega como uma bênção. E friso o ponto: "permitir que nos exercitemos por mais tempo e com mais vigor". A carnitina pode, em tese, auxiliar na prática do exercício mas não o elimina, combinado? Exercício é para a vida toda, se não quisermos amargar uma velhice de perda de mobilidade e saúde.

A pesquisa foi realizada com animais. E nós não somos camundongos. Mas o próximo passo dos cientistas será tentar confirmar seus resultados em gente. É o que garante a americana Deborah Muoio, diretora de pesquisa básica do Instituto Duke de Fisiologia Molecular. Antes disso, nem pensar em tomar pílulas de carnitina por aí. É preciso esperar um pouco mais — até para saber se não há efeitos colaterais. Mas o caminho indica ser promissor.

A carnitina é um micronutriente produzido normalmente pelo nosso organismo. E junto com uma enzima do metabolismo que atende pelo horrendo nome de CrAT turbina a atividade de nossas mitocôndrias (as usinas de energia de nossas células). Porém, o papel da ação conjunta de ambas era pouco conhecido. Deborah Muoio diz que juntas elas aumentam a resistência e a força dos músculos, cujas mitocôndrias começam a funcionar melhor. O resultado: mais força, mais resistência. Para os roedores foi um bálsamo. Para nós, ainda é incerto. E estou na torcida para que dê certo.

Na verdade, essa dupla de substâncias faz com que os músculos usem melhor a energia. É importante saber que não temos necessariamente que tomar carnitina. Nosso próprio organismo a produz. Ela está presente na carne vermelha e nos alimentos lácteos. Porém, sua produção declina com a idade. Assim, como também pode ser insuficiente em vegetarianos. Ou em atletas que têm uma exigência maior do nutriente do que aquela obtida pela ingestão normal de alimentos pode suprir.

Deborah destaca que mesmo os especialistas não sabem se ela pode oferecer ganhos reais de performance a atletas. Ou apenas suprir aquilo que lhes falta, para manter um equilíbrio. Então, é tolice e gasto de dinheiro sair se entupindo de carnitina com a crença de que vai correr ou pedalar melhor movido a suplemento.

Eu mesma já tomei carnitina. Estava totalmente depletada do nutriente. Primeiro, porque não como carne vermelha — não se trata de convicção, apenas não gosto. E minha ingestão de laticínios e outras carnes não era suficiente para suprir a necessidade. O treinamento para provas longas de trilha exige muita resistência, suga sua energia.

No meu caso, precisei repor os nutrientes perdidos com suplementação de carnitina por algum tempo. Claro, sob orientação de nutricionista. Fora o certo gosto desagradável pós-cápsulas, nada senti. Porém, também não virei um foguete — estou mais para lesma de montanha — e tampouco um Forrest Gump a correr até dias a fio sem parar. Apenas, deixei de ficar tão cansada. Reduzi minha deficiência. Voltei ao normal. Mas não tive ganhos extras.

É isso que cientistas como Deborah destacam. A carnitina poderá ajudar a repor suas deficiências. Mas não o transformará num super-atleta. No entanto, poderá ajudar pessoas que, devido ao envelhecimento, deixam de produzir a quantidade adequada do nutriente. É uma boa notícia.

Fonte: O Globo